Eu amo a minha mãe.
Muito.
Assim, um monte.
Mas de longe.
A última temporada de D. Rosana aqui em casa deixou isso muito claro.
Eu amo ligar, bater papo, fofocar.E eu faço isso sempre. Muito mais do que quem ama a mãe de perto.
Amo ir ao Correio, botar sedex, escrever cartinha. Com letras grandes, pra minha mãe cegueta poder enxergar.
Amo até ter que pagar tudo, pra que eu possa me sentir menos culpada pelo meu amor de longe.
Minha mãe de perto irrita. E me dá vontade de sair correndo. E de chorar. E de gritar. Que eu queria outra mãe. Pra ter dividido um monte de coisa que eu contei pras tias. As mães das minhas amigas. Mas as minhas amigas nunca contaram nada pra minha mãe. Elas tinham as delas. Só eu é que não tinha a minha.
Eu amo a minha mãe de longe, mas não sei explicar. Nem pra ela, nem pra ninguém, nem pra mim mesma.
Meu amor tem cheiro de mentira.
Quem ama quer tá perto, tá junto, quer dividir.
Eu não.
Eu quero mamãe longe.
Pra manter a calma. O sereno.
É que de longe eu posso criar diálogos imaginários, posso montar a mãe que eu quero.
De perto não dá.
Ela chora, dramatiza, espera que eu tenha cinco anos.
Quer que o tempo volte, e como ele não cede ela se perde.
Dia desses resolvi contar tudo isso.
Esperei o grande drama do século.
Mas não.
Ela simplesmente falou que eu sou esquisita mesmo. Que o problema deve ser meu pai. Claro.
E emendou o assunto, perguntando quando é que eu vou pra lá. Por que ela acha que quebrou o aparelho de medir glicose que eu dei.
Mamãe é realmente imprevisível.
Mas eu amo.
De longe.