quarta-feira, 31 de março de 2010

Minha mãe disse que eu sou o equilíbrio e o descontrole em forma de gente.
Odeio praga materna.
Gostar de gente dá muito trabalho. Você vai lá, investe tempo, dinheiro, paciência. Liga mesmo sem ter tempo, sorri às vezes sem vontade por que faz parte. Escuta, escuta e escuta. Vez ou outra topa algum programa idiota, só pra não dizer não mais uma vez. Fala da sua vida, se importa. E importar-se com alguém além de nós é sempre difícil. O ser humano é egoísta. Eu também sou.
Você faz tudo isso e pra que?
De repente essa gente toda surta. É, assim, do nada. Alguns surtam por que você namora, outros por que trabalha demais. Tem alguns até que surtam por que você sorri. Por que você chora. Por que você gosta mais da sua cachorra. por que você não bebe, não fuma, não cheira. Sei lá. Essa gente toda que você investiu alguma coisa simplesmente enlouquece mais que o limite do socialmente aceitável.
Eu sempre prefeiri não gostar. Eu não gosto de quase ninguém.
Gostar dá um trabalho do cacete e quase nunca vale a pena.
Não tenho orkut, face sei lá o que, twitter, rede de relacionamentos me irritam. Eu sou chata. Mas o mundo é mais.
Eu quase não tenho tempo pra ver minha amiga, que trabalha aqui pertinho de casa, imagina responder recado de alguém que eu nem lembro o sobrenome, mas se diz meu amigo por que estudamos juntos na 4ª série...
Não, não. Eu sou chata, velha e ranzinza. Mas ando mais tolerante. Treinando horrores pra. Essa chatice toda fica em linhas, aqui no blog, para vocês meus milhares de leitores.
Talvez eu escreva um best seller, falando do meu pânico de gente. E do buraco que eu vejo em quase todo trausente.
Eu morro de medo de buracos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

15 anos.

Quando eu tinha quinze anos jurava que meu primeiro porre viria antes dos dezoito. Não veio.

Jurava que tomaria uísque, num copo sem gelo. Todo final de tarde. Que pintaria as unhas do pé de vermelho. Com o copo de uísque na mão. Entre meus dedos dos pé teria aquele negócio amarelo, pra separar. Aquele que a Cláudia Raia usou numa novela brega qualquer. Mas aos 25 eu não gosto de uísque. Nem de esmalte vermelho. Então a utopia de pintar a unha do pé com uma mão e beber uísque sem gelo com a outra, numa sala colorida ao som de Elis Regina morreu.

Aos quinze eu também achava que ia me formar em Veterinária.
Mas eu fiz direito.
Aos quinze eu tinha certeza que minha mãe me enlouqueceria.
Bom, eu tava certa.
Aos quinze eu odiava meu pai. Eu e todo meu ódio adolescente.
Hoje eu amo. Sem reticências, sem interrogações. Sem tantos por quês.
Aos quase quinze eu planejei muito a tal festa de debutante. Escolhi mentalmente docinhos, a roupa, quem eu convidaria, quem não iria de jeito nenhum (e quando se é adolescente há sempre duas listas - a de quem vai e a de quem não vai. Hoje eu não faria por preguiça). Pois é. Escolhi e planejei tudo. Tim tim por tim tim. Ai papai me deu uns dinheiros, que eu nem lembro bem quanto.
Torrei todo o meu planejamento festivo e festeiro num tal de elisbelt da Feiticeira. Sim sim. Aquela mesma. A do Hulk. Do H. Queria ficar gostosona e fisgar o Thiaguinho pagodeiro da 8ª série. O negócio era uma fortuna, vendido nesses canais de baboseiras.
Ao contrário do previsto, além de perder minha festa incrível não fiquei com o corpo de odalisca da Sra. Joana, hoje evangélica. Também não arrebatei o coração do Thiaguinho pagodeiro, que a essa altura já estava com uma peituda do 2ª ano. Graças a Deus.
Tem coisas que a gente só faz aos 15. Ou quase quinze.
Definitivamente.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Tolerância (in-in-in)

Eu juro pela minha mãe mortinha que tenho tentado ser mais tolerante nesse mundão de meu Deus.
E olha, se eu jurei pela minha mãe mortinha pode acreditar que é sério.
Mas aí o estagiário chega atrasado em plena quarta-feira. Puta que me pariu! E eu avisei umas trocentas vezes que hoje meu chefe estaria no escritório. Vamos lá Samantha, concentra, exercita a tolerância.
Tudo bem se ele entra meio dia (MEIO DIA!!!!), 40 minutos é bobagem.
Tolerância. Tolerância. Tolerância.
Pronto. Passou.
Mas aí a mulher do distribuidor do fórum trabalhista que jura que é minha amiga de infância pergunta da Jad. E eu nem sei como ela sabe da Jad. Eu falei, ou não falei. Talvez ela seja bruxa. Tem cara e cabelo de. Pois é. Me pergunta. E eu queria que ninguém nunca mais no mundo todo me perguntasse dela. Queria ficar quietinha. Só eu e toda a minha dor de quem perdeu uma cachorra que sorria e que dormia e que virara de barriga pra cima só pra mim. Mas ela perguntou. Preciso dizer alguma coisa. Então falo que ela tá bem. Não importa que ela tenha morrido. Não quero falar nisso e ponto. Ela insiste. Quer sabe bem como. Então além de ressucitar a cachorra eu encerro a conversa dizendo que a Jad já tá tão boa que voltou a andar na rua. É tudo mentira, eu sei. Mas eu não quero falar nisso. Não quero que ninguém nunca mais no mundo me pergunte da minha cachorra. Quero ficar só eu e a minha dor. Só eu, ela e o sorriso sem dente que ela tinha.
Tolerância. Tolerância. Tolerância.
Mas aí eu fico 1:40h na fila do banco e o cidadão (vulgo bancário) ainda me oferece um investimento quando eu ia sacar o alvará. Se não fosse hoje, um dia que eu resolvi ser metodicamente tolerante, eu teria feito um puta discurso apaixonado sobre venda casada, código de defesa do consumidor e capitalismo. Calma, vai que dá.
Só respiração não dá dando certo. Viver num mundo que ninguém respeita ninguém é froid.
Lembro do Gustavo. Penso que eu preciso ser um ser humano melhor. Lembro de mamãe. Que falava sempre e pra todo mundo que meu apelido era crica. Já sabe por que né? É sempre assim que ela diz.
Final do dia. Vamos lá. Hoje tolerei o universo insuportável de gente. E eu não gosto de gente. Mas eu disfarço muito bem. Eu quase não gosto de ninguém que as poucas pessoas que eu gosto dá pra dizer assim, num minuto só.
Eu sou mesmo ranzinza. Mas tô tentanto acreditar que a tolerância é prática. Uma hora eu acostumo. Deve ser assim.
Hoje eu sorri, fui educada, simpática e nem fiz cara de quem tava comendo jiló. Eu nunca comi jiló na verdade. Mas posso imaginar como é.
Hoje eu nem reclamei das gordas que atrapalham a aula de boxe ou das pivetas que vão lá pra azarar alunos da medicina. Hoje não. Hoje eu fiquei quieitinha. Batendo muito calma e tolerante mente no meu saco.
Hoje eu não fui tão intolerante. Eu acho.

quarta-feira, 17 de março de 2010

As vezes eu fico tão cansada, tão cansada, tão cansada, que até esqueço do resto todo.
Esqueço que tenho que colocar os remédios de mamãe no correio, por que senão a dor na perna piora. E tenho que colocar também os laudos, a carteira de trabalho e tenho que ligar no 135 e agendar a perícia lá, em Piracicaba. É , não posso esquecer de avisar a moça do 135 que é perícia em trânsito. Preciso lembrar e lembrar e lembrar. É, não posso esquecer. Não posso. Preciso perguntar pra mamãe se o psiquiatra escreveu as coisas que eu deixei anotadas, no laudo, pro médico que a moça do 135 vai marcar.
Mas é que eu ando cansada. Não ando. Só cansada. E então não posso esquecer que a cachorra quase cadeirante amor da minha vida toda toma seis remédios. Tem dois de oito em oito. Não posso esquecer de colocar o relógio pra despertar as duas. Não posso, não posso e não posso. Esquecer de nada. Lembrar de tudo. E sempre e sempre e sempre. Sexta tem consulta. E choro. Eu choro e choro e choro. Dói. A veterinária fala coisas que eu finjo que não entendo. E atendo o celular, e falo com todo meu advogadês lindo. Mas é fuga. Só fuga. Eu fujo por que não quero saber daquilo tudo que ela fala. Mas eu sei. E ai dói. E então eu volto pro celular, pra algum cliente, pra algum agravo, pra qualquer recurso. É, não posso esquecer. Sexta tem consulta. As oito. No morro. Mas eu nem tenho mais medo de subir de moto no morro. Já sei subir. Eu e o amor da minha vida toda. Minha cadela que não anda.
Cansada. Eu ando. Não. Não ando. Só cansada mesmo. Sem verbos e movimentos. Cadê o cartão ponto do processo do seu João? Tá, tudo bem, não tem. Qual é a proposta então? Tá, não tem também. As vezes eu esqueço que trabalho para empresas. E elas nunca tem nada, nunca sabem de nada. Não, não seu João. Não esqueci do Senhor. Mas eu esqueço de tudo. Mas do sr. eu não esqueci. Nem do remédio da minha mãe pelo sedex. Nem da consulta da Jade, na sexta. No morro. Pois é seu João. A empresa não tem proposta. É, eu sei. Eles nunca tem. Não seu João, não posso ligar pro sr. É falta de ética. Só seu advogado pode. Eu sou advogada da empresa seu João. É eu entendo. Tá certo. Na verdade eu não entendo nada, só disse que entendia por que tô cansada. E amanhã terei esquecido de vc por que preciso lembrar do sedex da minha mãe e da consulta da Jad as 8 no morro que não tenho mais medo.
Oi amor. Foi bom. A Jade tá bem. Tá indo. Tô com saudade. A fatura do cartão. O demonstrativo da sua mãe. Não, não posso esquecer. Tirar dinheiro amanhã. Buscar o documento também. E não pode ser em horário de almoço. Por que tá fechado. Eu lembro, eu sempre lembro de coisas pra você. Levar as roupas velhas e cobertores e coisas e tudo pra doar. O sofá aqui da sala não me deixa esquecer. Sim, vamos colocar no porta malas. Levamos tudo. É, fica lá mesmo. Não, não posso esquecer. O sofá, as roupas, as cobertas e meu frio. É, tenho que lembrar de comprar lençol. Não tenho mais lençol. Tem feito frio. E comprar meias. Preciso de meias novas. E uma havaiana. Que a minha eu perdi. Não, não esqueci dela. Só perdi. E perder é melhor do que esquecer. Perder é desculpável. Esquecer não. Não lembrar não. Eu sou chata, velha e perfeccionista. Tenho que lembrar de tudo sempre. Mas é que eu ando cansada. Não. Andar é verbo e movimento. Eu prefiro calmaria.Coisa de gente cansada. mas não tanto. Ainda sobra tempo pra ser feliz.
Amanhã eu preciso lembrar só de duas coisas: Comprar um caixa bem grande de sucrilhos e colocar o pacote na bolsa e comer escondida durante todo meu dia. Mesmo que pareça coisa de maluca. Mesmo que eu tenha plena certeza que estou pesando 415 kilos a mais por isso. Não tem importância. Será que cabe na bolsa? Se não couber eu troco. Não tem importância também. Só quero o sucrilhos lá. Por que ele tem o efeito do celular no meio da consulta. Felicidade sem anfetamina.
A outra coisa eu esqueci. Mas amanhã eu lembro. Tenho que lembrar. Não posso esquecer. Nem que eu lembre, anote e perca o papel. Por que perder eu posso. Esquecer é que não.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Dislexia

Eu comprei uma calcinha de bolinhas. Acho que todo mundo nesse mundão de meu deus merece uma calcinha de bolinhas. *** Essa semana fiz uma audiência com o advogado bam bam bam do pedaço. Contraditei uma testemunha dele. (ho ho ho ho) Tô mais feliz que pinto no lixo. *** Minha TPM voltou. Veja bem. Fazia tempos que eu não me sentia tããããããão , tãããããão, tããããão digamos, alterada. Não me controlei e chamei umas duas barbeiras de "barbeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeiras" no trânsito. Preciso tirar a carta logo. ***

terça-feira, 2 de março de 2010

Tô aceitando doação de ração light, papinha (para filhotes), ossos do tipo pequeno, fortekor, polaramine, artrim, furosemida (sim, os últimos quatro são remédios), uma caminha nova, shampoo para pelos claros, condicionador (de preferência com cheiro de morango da PetStar), entre outros.
Enfim, se você se sensibilizou com uma pobre mãe de duas cadelas idosas, mas não tem nada disso no seu lar doce lar, aceito dinheiro também. Manda e-mail que eu informo a conta do Bradesco.
Ó vida.