Eu queria escrever sobre alguma coisa. Mas não sei o quê. Queria algo assim, capaz de tirar toda essa dor do meu peito, todo esse medo que nem minha cara de mulher bem resolvida consegue esconder.
Queria contar uma história bacana, falar sobre a merda da explosão imobiliária de Santos, dela e de seus apartamentos, 18 por andar, mas todos com varanda gourmet. Queria talvez falar sobre alguma desilução com seres do sexo oposto, sobre as mulheres burras que aturo na pós, queria falar sobre o príncipe encantado, sobre a crise na economia daqueles filhos da puta americanos.
Mas nao dá não. Só tem um nó aqui. Uma sensação esquisita. Um inquietação, uma vontade de sair correndo, de chorar, de gritar e de ligar pra meia dúzia de gente, de pedir socorro.
Maior que todo esse medo é meu medo de me tornar um muro de lamentação. Aquela vizinha chata, que ao invés de bom dia, reclama do marido,do porteiro, da síndica, do cachorro, do preço da batata ou então do sol lindo que tá lá fora.
Morro de medo, mais que de todos os meus medos, de ser assim.
Então não conto nada pra ninguém. Só pro Fernando. Que entende minha loucura. Que não me cobra sobriedade. E ainda me dá ferrero, toda a vez que a gente se vê.
Eu tenho muito medo.
De passar daquela linhazinha sabe?
De ficar louca de vez.
Até do meu blog eu tenho medo.
Antes eu falava, sem hesitar. Agora existe aquela coisinha ali do lado, de visitas, e todo santo dia ela registra quarenta pessoas que não tinham mais o que fazer e vieram ler algumas besteira, dar risada talvez.
Oi, prazer, meu nome é Samantha, minha mãe é dependente química, meu pai é ausente (daqueles que não liga nem no aniversário), minhas irmãs não estão nem aí e meu irmão, a única pessoa que eu acho que amo no meio disso tudo, nao pode me ajudar, por que a piranha da ex mulher fóde a vida dele. Ah! Isso sem dizer que nem sei se meu pai é mesmo meu pai.
Mas eu não posso dizer tudo isso.
Eu tenho medo.
Então visto minha cara de intelectual, falo da minha pós, do meu trabalho ou da tese revolucionária que eu criei pra tirar nomes do SPC, mesmo quando você deve. Sério. Falo do meu desapego, da minha praticidade, do meu bom gosto musical. E todo mundo me acha interessante pra caralho, tanto, que até acredito nisso.
Eu sou uma grande ilusão de olhos verdes.
Que tem medo, muito medo.