Hoje recebi da sogrona um texto da Vanusa Leão dizendo que não dá pra ser mãe, mulher, amante e profissional.
Há pouquíssimo tempo atrás eu discodaria veementemente. Diria que era recalque. Simples assim.
Hoje eu concordo. Não dá mesmo. E olha que eu nem sou mãe.
A ditadura do corpo te escraviza. Não adianta negar, por mais desencanada que você seja (e eu acho que sou). Vira e mexe me pego olhando pra ver se minha bunda caiu, se apareceu uma celulitezinha... E corro pra academia. Eu gosto. Mas se me dessem a fórmula da barriga linda sem abdominal, voi lá, a Unimes não me veria mais.
Aí preciso adequar uns três, quatro treinos, com 17 audiências na semana. Sim, por que eu sou advogada trabalhista, e de empresa. Então as pautas são sempre assim, monstruosas. Advocacia itinerante.
Tudo isso no salto, na maquiagem, perfumada e de bom humor.
Fora isso você precisa encaixar a depilação, a unha e a sombrancelha na sua agenda. E quando atrasa (e você sempre atrasa) rezar pra esteticista não desmarcar, por que se não f...Mais uma semana com a unha ferrada, a sombrancelha torta e milhões de pelos onde não deveria ter nenhum.
Mas você tem 17 audiências.
A unha, a sombrancelha, a depilação.
O telefone (um dos três) que toca o dia todo.
E seu chefe.
E seus estagiários.
Jesus.
Quem foi que disse que eu queria ser moderna?
E você também é namorada, filha, mãe de cachorra.
Jesus de novo.
O tiro de misericórdia foi sexta passada. Eu estava descabeladérrima no fórum, sem salto, sem maquiagem, humor mediado (e eu juro que sou bem humorada!). A única coisa decente era meu cheiro, afinal, não é todo dia que o free chop esquece de cobrar dois victorias secrets não?
Pois bem. Um colega de faculdade me vê, vem bem perto e diz: O que aconteceu?
Oi?
É, você tá meio...
Nada. Eu sou mulher.
Ele que vá pra puta que pariu.
É isso.